///rios.força.fluxo
2020

OLIVEIRA, Fernanda; MELO FILHO; Claudio de. Rios, força, fluxo. ClimaCom – Coexistências e cocriações [online], Campinas,  ano 8, n. 20. abril 2021. Available from: http://climacom.mudancasclimaticas.net.br/rios-forca-fluxo/

EN

The artwork seeks to create a river-space with the flow of memory trails gathered through our personal experiences, through which we were flooded by its strength – physical and virtual – and its destruction. This sentence dictates the tone of this work. Thinking about rivers is a sense of their flow perceived, an invitation to the intentionality of their movements and tracks. Anna Lowenhaupt Tsing calls  “slow perturbation” a characteristic of Anthropocene time. As Tsing points out, “our age is a time of contaminated emergencies, landscapes that emerge with the residual trail of environmental destruction, imperial conquest, profit-making, racism, and the authoritarian norm – as well as the creative becoming” (TSING, 2019, p.23). The American anthropologist refers to landscapes that nourish unusual collaborations of a contaminated landscape, that is, anthropogenic ecosystems in which several species cohabit. This is the thought that surrounds this work. Not that of claiming a landscape or refuting a space, but of revealing a river's existence, of imagining a possible slow disturbance through the traces of our experiences (images from personal databases). For us, imagining slow disruption was building a geographical-poetic space of rivers from the union of our individual confrontations. Memories are activated by the look, which comes to life when following the flow of this crossing. The path is that of the possibilities of contaminated encounters guided by the force-flow wordplay. The notion of a trace is essential for this work, but here the logic is inverted. Instead of waiting for the flood to pass to collect its tracks, from the tracks – from the disturbance – we built the river space. Images chosen by their calling, combined with their official geographic coordinates arranged by a combination of three words. Geolocalized poetry is formed in a spaceless space that flirts with the physical, but its existence is just a possibility. The geographical form of this work was possible through the ///What3words application: a geolocation system for communication, with a resolution of three square meters. Each location around the globe is made up of three permanent words. However, ///rivers.força.fluxo doesn't match anywhere. A pleasant coincidence.


PT-BR

Criar um espaço-rio com o fluxo de rastros-memória reunidos através de nossas experiências, pelas quais fomos inundados por sua força – física e virtual – e sua destruição. Esta sentença dita o tom desta obra. Pensar sobre rios é fazer-perceber seu fluxo, um convite à intencionalidade de seus movimentos e de seus rastros. Anna Lowenhaupt Tsing chama de “perturbação lenta” certa característica do tempo antropoceno. Para ela, “nossa época é um tempo de emergências contaminadas, paisagens que surgem com o rastro residual da destruição ambiental, da conquista imperial, dos fins lucrativos, do racismo e da norma autoritária – assim como do devir criativo” (TSING, 2019, p.23). A antropóloga americana refere-se a paisagens que nutrem colaborações inusitadas de uma paisagem contaminada, ou seja, certos ecossistemas antropogênicos nos quais diversas espécies coabitam. De certo modo, este é o pensamento que circunda esta obra. Não o de reivindicar uma paisagem ou de refutar um espaço, mas de revelar uma existência-rio, de imaginar uma perturbação-lenta possível através dos rastros de nossas experiências (imagens de bancos de dados pessoais). Para nós, imaginar perturbação-lenta foi construir um  espaço geográfico-poético de rios a partir da união de nossos confrontos individuais. Memórias ativadas pelo olhar, o que faz ganhar vida ao seguir o fluxo deste atravessamento. O caminho é o das possibilidades de encontros contaminados guiados pelo jogo de palavras força-fluxo. A noção de rastro é essencial para este trabalho, mas aqui inverte-se a lógica. Ao invés de esperarmos a enxurrada passar para colher seus rastros, foi a partir dos rastros – da perturbação – que construímos o espaço-rio. Imagens escolhidas por seu chamado, combinadas às suas coordenadas geográficas oficiais dispostas pela combinação de três palavras. Uma poesia geolocalizada se forma em um espaço sem espaço que flerta com o físico, mas sua existência é apenas uma possibilidade. A forma geográfica deste trabalho foi possível através do aplicativo ///What3words: um sistema de geolocalização para a comunicação, com a resolução de três metros quadrados. Cada localização ao redor do globo é composta por três palavras permanentes. Contudo, ///rios.força.fluxo não corresponde a lugar algum. Uma agradável coincidência.